RESUMOS E RESENHAS

Resumo – Grupo de Estudos PET                     09/2011
Bolsista: Caroline de Souza Antunes

Livro: Linguagens da violência

As imagens das galeras funks na imprensa

Os anos 1960 foram marcados por inúmeros movimentos que ganharam visibilidade por combater e criticar a ordem conservadora vigente até então. Os movimentos que apareciam na mídia se destacavam, pois traziam em sua ideologia uma “ameaça para a sociedade”. Combateu-se, nesse período movimentos sociais como o Feminista, o Punk, o Movimento Negro, o Hippie, etc. As grandes cidades eram, e ainda são, caracterizadas pela grande diversidade sociocultural existente, no Rio de Janeiro, por exemplo, um grande movimento que se surgiu neste período e que posteriormente foi alvo da mídia sensacionalista é o Funk. No texto, o autor explica o surgimento deste movimento no cenário midiático e mostra como o funk pôde ser tão criminalizado e glamourizado ao mesmo tempo.

Em 1992 e 1993 uma série de arrastões ocorridos na zona sul do Rio – local considerado área nobre da cidade – foram brutalmente associados a membros do Movimento Funk carioca que se desenvolvia enquanto ideologia e, aumentava consideravelmente o número de simpatizantes por este estilo musical. Antes de 1992 o Funk não era presente nos meios de comunicações sociais como o rádio, a televisão e os jornais por exemplo. A ascensão midiática do Funk se deu pela associação destes violentos arrastões à funkeiros que magitoriamente são pessoas advindas das áreas pobres da cidade. A visibilidade do funk possibilitada pela mídia acarretou um duplo processo: ao mesmo tempo em que o funk era criminalizado, associado diretamente ao narcotráfico e a atentados violentos pela cidade, ganhava-se também um amplo espaço de debate em torno desse movimento cultural. Ao mesmo tempo em que se reprimia facilitava-se também a socialização das ideias presentes nas letras das músicas que giravam em torno de temáticas como o racismo, a realidade dos morros, a precariedade do transporte, a repressão e o massacre policial cotidiano. Os arrastões de 92 permitiram pensar um falso movimento funk devido à influência pejorativa da mídia e culminou em um processo de esterotipação dos funkeiros como sendo todos jovens, negros, violentos, pobres e vinculados a facções criminosas. Desde então, a presença da violência quase sempre é associada à imagem de jovens oriundos das zonas pobres e dos morros.

A falta de embasamento teórico e o sensacionalismo midiático não permitiram a diferenciação entre “galeras” e “gangues”, direcionando o pensamento populacional a desconexas relações. O Funk se destacou na mídia como atividade criminosa pois foi associada aos arrastões e, por isso, pregava-se a interdição dos bailes nos morros pois acreditava-se que nesses locais havia atividades ilegais. Porém, aos poucos, um grande contingente de jovens de classe média “saíram do asfalto” e “subiram o morro” em busca de diversão e percebiam os bailes como forma de lazer. Esta popularidade do Funk em relação à classe média fez com que se combatessem ainda mais os bailes e, nesta época a Lei do Silêncio foi um aparato estratégico para este combate.

Posteriormente, o surgimento do Funk melody fez muito sucesso e foi acatado pela mídia adentrando nas novelas e nos programas semanais. Adentrando no cenário midiático então, o Movimento Funk é caracterizado com sujeitos cidadãos e se destaca como identidade. Com esta repercussão, a mídia se vê obrigada a adaptar-se a este movimento compreendendo o funk como manifestação cultural. Esta “conquista” do movimento funk foi possibilitada por um espaço conquistado no mercado com a comercialização de CDs, DVDs, shows e a propagação dos bailes. Neste cenário de conquistas e aceitação, o movimento rap não se apresenta como tal. As temáticas presentes nas letras de raps contam a realidade de forma escancarada e por isto não conseguem adentrar no cenário midiático atual. Desta forma, o rap ainda sofre com a criminalização por ridicularizar a polícia e a ineficiência do sistema, por exemplo.

Nesta perspectiva, pensa-se a juventude como engrenadora de movimentos e manifestações culturais. Por uma concepção histórica, associa-se os movimentos juvenis a não-seriedade, a baderna e aos desajustes do sistema e da sociedade. É preciso desconstruir noções emblemáticas, conservadoras e tradicionais. O jovem é sim, na maioria das vezes, o agente
social que está presente nas diversas manifestações existentes e isto deve ser considerado algo positivo e construtivo.



O livro (Linguagens da violência) foi organizado por:
Carlos Alberto Messeder Pereira
Elizabeth Rondelli
Karl Erik Schollhammer
Micael Herschmann

E o capítulo "As imagens das galeras funk na imprensa" foi escrito por:
Micael Herschmann.


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Resumo – Grupo de Estudos PET                      24/05/2011
Bolsista: Fernanda Torrentes

Juventude e Políticas Públicas no Brasil
Autores: Marília Pontes Sposito; Paulo César Rodrigues Carrano

O texto de Marília Sposito e Paulo César Carrano nos apresenta análise das políticas públicas de juventude existentes antes do primeiro mandato do Presidente Lula (que se iniciou em 2003), considerando os desafios que o novo presidente teria de enfrentar. Para iniciar a análise foi preciso que os autores explicassem o contexto em que as políticas públicas de juventude surgiram no Brasil e de que maneira foram e são, ainda, tratadas.

Os autores se baseiam em Rua (ano) que entende as políticas públicas como um conjunto de decisões e ações destinadas à resolução de problemas políticos. Logo, a questão das políticas públicas destinadas diretamente ao jovem teriam que abandonar o “estado de coisas” (de mera implantação de serviços) e passar para a condição de problemas políticos, ou seja, entrar na agenda pública e política nacional. Segundo essa autora no Brasil apenas no final da década de 1990 e começo de 2000 começa a implantação de políticas sociais voltadas à juventude.

A evolução história das políticas ocorre no momento em que não é mais possível ignorar os problemas de exclusão dos jovens da sociedade e a própria dificuldade sofrida na transição e sua integração ao mundo adulto. Esse debate segue duas linhas de pensamento dentro do aparelho do Estado: de um lado, a formação de mão-de-obra e de outro a transformação dos jovens em sujeitos de direitos.

A primeira linha de pensamento acaba por ser favorecida, pois os jovens passam a ser vistos como problema quando não se adequam aos projetos de formação de mão de obra e são vistos como um segmento que tende a ameaçar a ordem da sociedade. Contudo, seguem os autores afirmando que a definição do tipo de “problema” muda conforme o contexto, se na década de 1960 o problema se encontrava no protagonismo da juventude em uma crise de valores, da década de 1970 em diante o problema estava na dificuldade na entrada da vida ativa, tornando-os uma categoria econômica.

Já em 1980 outra discussão vem à tona, é a delegação do que significava ser jovem, surgindo um movimento que tentava superar essa concepção restritiva de juventude trazendo a maioridade legal como término desse período, indicada na faixa etária. Essas e outras discussões abrem novos caminhos na constituição da imagem positiva dos jovens, em contraponto à resistência de setores conservadores aparecem como respostas, trazendo propostas que regridem essas discussões, embasadas em um temor aos  “excessos de direitos” e poucos deveres determinado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Dos programas federais herdados pelo governo Lula encontram-se mais de 30 projetos governamentais destinados à juventude. Os primeiros projetos contavam com programas específicos e a maioria se encontrava na área da saúde, com foco na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, na questão das drogas, acidentes de trânsito e gravidez precoce. Foi travada uma “guerra”, segundo os autores, para a salvação da juventude do tráfico e da violência, quando foi percebido que isso era insuficiente, e que era preciso ir além das políticas de saúde, projetos de inclusão e capacitação começaram a ser implementados. Dentro desses projetos existia uma completa desinformação sobre o desempenho dessas ações e nenhum sistema de avaliação. A fragmentação das políticas públicas era outra característica marcante, projetos como “jovem empreendedor” acabavam por trazer uma fetichização da capacitação dos jovens para o mercado de trabalho e pouco se propunha de alternativa para o questionamento da realidade econômica e social na qual o jovem estava inserido. O surgimento do neolocalismo foi outro motivo que afetou negativamente a construção de espaços democráticos e das políticas públicas.

Para os autores o desafio principal do governo Lula se efetivava na construção de um modo diferenciado de compreender os jovens na sociedade brasileira. Essa compreensão se expressaria nas políticas públicas e os jovens poderiam ser, pela primeira vez, protagonistas dentro desses projetos, na atualidade sabemos que isso não ocorreu e que os projetos destinados a essa área continuam fragmentados e precarizados, priorizando soluções pontuais sem verdadeiramente mudar a realidade desses jovens.
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Resenha Crítica – Grupo de Estudos PET                        02/05/2011

Bolsista: Ingrid Oliveira

Desafios à pesquisa no Serviço Social: da formação acadêmica à prática profissional.
Autora: Aglair Alencar Setubal - Curso de Serviço Social do Instituto Camillo Filho (ICF-Piauí)

Um fato ronda nossa profissão: somente conhecendo a realidade é que podemos transformá-la. É deste ponto que partimos para nos questionar: como desvendar esta realidade?

Suponhamos que o mundo seja uma caixa cheia dos mais diversos objetos; ao abri-la, retiraria do seu interior somente aqueles que mais me chamassem atenção. Seria possível ter conhecimento do conteúdo da caixa selecionando apenas alguns objetos? É claro que não. Por isso Kosik considera que ''a atitude investigativa que deixa para trás tudo aquilo que é inessencial, lança dúvida quando a sua própria legitimidade.''

É através da práxis transformadora que podemos ir à essência das coisas, encontra-se neste ponto uma das dificuldades do Serviço Social. Segundo Vázquez, transformar a prática profissional em práxis social é uma atividade política, somente assim podemos fugir de ações pontuais que agem apenas sobre a superficialidade. Aqui a pesquisa mostra sua importância. É com ela que podemos sair do plano da pseudoconcreticidade, que se baseia no senso comum, fomentando uma práxis utilitária. A dialética do nosso pensar e agir é que nos dá capacidade de compreender a dinâmica da realidade.

Partindo desses aspectos, a autora coloca em evidência o papel da pesquisa dentro do serviço social, os desafios que temos da formação acadêmica à prática profissional, fazendo uma análise brasileira, onde verifica uma ampla produção na área. No entanto, constata-se que a maior parte das publicações está relacionada ao âmbito acadêmico. Nessa conjuntura podemos questionar: em que lugar está a produção de conhecimento dos assistentes sociais? Setubal explica a necessidade de levar a pesquisa para além das burocracias que as instituições acadêmicas exigem, para entender a pesquisa como parte do fazer profissional do Serviço Social.

Desenvolver o ato investigativo é se capacitar para entender o movimento da sociedade, compreender que existem desigualdades e que por isso devemos ter uma compreensão crítica da realidade. Caso contrário, engessa-se nosso conhecimento e começa-se a trabalhar uma práxis mimética, que como diz Lefevbre, não questiona o porquê e o para quê da ação.

Fazer com que essa atividade não seja exclusividade do cotidiano de estudantes e professores é tarefa que exige um grande trabalho na base da profissão, a graduação, que se dá por meio das Diretrizes Curriculares. E por isso a extrema necessidade da articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão que ainda é tão precária nas universidades. Como a autora afirma, ''o assistente social é responsável, na condição de sujeito, pelo desempenho dos papéis de ator e autor da história; tem responsabilidades pelo ser e pelo vir a ser do Serviço Social''.

Com essa compreensão é que saímos do plano abstrato para dar corporeidade à pratica profissional, ou seja, é nessa relação dialética de pesquisa-ação e profissional-pesquisa que nos capacitamos para desvendar as aparências, para se entender de fato a totalidade. É este processo de questionamento e investigação da realidade que faz da pesquisa um instrumento de auto-análise permanente, de construção de novas formas de intervenção, de provocação de outros modos de pensar o que até então era dado como axioma, como verdade evidente por si. Eis a tarefa.


Fontes bibliográficas:

KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LEFEBVRE, H. Sociologia de Marx. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1979.


VÀZQUEZ, A S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968

SETUBAL, A A . Desafios à pesquisa no Serviço Social: da formação acadêmica à prática profissional. Revista Katálysis, vol. 10, 2007, pp. 64-72. Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
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Resumo – Grupo de Estudos PET                                      09/05/2011

Bolsista: Emanoela Vogel

O desafio da pesquisa social
Autora: Maria Cecília de Souza Minayo*

No artigo “O desafio da pesquisa social”[1], encontrado no livro “Pesquisa social: teoria, método e criatividade”, Minayo[2] (2008) é dividido em quatro partes. A primeira parte do texto aborda questões relacionadas a “Ciência e Cientificidade” e a autora afirma que o homem sempre se preocupou com o conhecimento da realidade, sendo que  historicamente fez uso da religião, da filosofia, da arte para buscar esse conhecimento, e a ciência seria mais um dos instrumentos nessa procura. Porém na sociedade ocidental, a ciência tornou-se uma forma hegemônica de construção da realidade, tanto que alguns críticos a consideram como um novo mito, já que afirma ser a única promotora da verdade. A ciência se estabeleceu como hegemônica por que respondeu questões técnicas que se colocaram com o desenvolvimento industrial e por que estabeleceu uma linguagem fundamental através de conceitos, métodos e técnicas para compreender o mundo, os fenômenos, os processos e as relações.

A ciência é permeada por conflitos e contradições, e uma das controvérsias é o embate entre ciências sociais X ciências naturais. Alguns defendem a existência de uma uniformidade, sendo que o social deve se equiparar ao natural para receber o título de ciência; e outros afirmam a necessidade da diferença e da especificidade entre eles. Minayo (2008) cita Bruyne et al. (apud Minayo, 2008) que defende que o campo científico possui ao mesmo tempo dois pólos: um de unidade, pois pode existir a semelhança em todas as atividades que partem da idéia do conhecimento construído por meio de conceitos; e outro de diversidade, pois o campo da ciência não pode ser reduzido a uma única forma de conhecer, mas ela contém maneiras diversas re realização.

Diante de diversos questionamentos sobre a configuração das ciências sociais como conhecimento científico, a autora propõe a reflexão dos seguintes dilemas: “(...) seguir os caminhos das ciências estabelecidas e empobrecer seu próprio objeto? Ou encontrar seu núcleo mais profundo, abandonando a idéia de cientificidade?” (MINAYO, 2008, p.11). E para falar das Ciências Sociais dentro de sua peculiaridade a autora utiliza cinco critérios[3] que as diferenciam, mas que não as desvinculam dos princípios da cientificidade.

O primeiro é que o objeto das Ciências Sociais é histórico, ou seja, cada sociedade humana se constrói de maneira diferente, porém aquelas que vivenciam o mesmo período histórico possuem traços em comum devido à influência das comunicações, e as sociedades presentes são marcadas pelo seu passado e constroem o seu futuro. O segundo é que o objeto das Ciências Sociais possuiconsciência histórica, ou seja, não é apenas o investigador que tem capacidade de dar sentido ao seu trabalho intelectual, mas todos os seres humanos dão significados as sua ações, explicitam suas intenções, projetam e planejam o seu futuro, portanto o nível de consciência historia das Ciências Sociais se refere ao nível de consciência histórica da sociedade de seu tempo.

O terceiro critério é que nas Ciências Sociais existe uma identidade entre sujeito e objeto, pois lida com seres humanos, que por seus traços como classe, faixa etária, etc., se aproximam do investigador. O quarto critério é que as Ciências Sociais são intrínsecas e intrinsecamente ideológicas, pois não existe ciência neutra, de forma mais veemente nas Ciências Sociais, onde a visão de mundo implica em todo o processo de conhecimento desde a escolha do objeto, a aplicação e o resultado, e isso ocorre também nas Ciências Naturais, de forma diferente, mas que aparecem quando se escolhe ou descarta temas, métodos e técnicas. E o último critério é que o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo, pois elas possuem instrumentos e teorias que permitem a aproximação da existência dos seres humanos em sociedade, abordando o conjunto das expressões humanas nas estruturas, processos, representações, símbolos e significados.

Na segunda parte do texto, Minayo (2008) traz o “Conceito da metodologia de pesquisa”, afirmando que “(...) a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade).” (MINAYO, 2008, p.14). A autora afirma que a metodologia é muito mais que técnicas, mas é a articulação da teoria, da realidade dos pensamentos sobre a realidade, utilizando palavras de Lenin, “o método é a alma da teoria” (LENIN apud MINAYO, 2008, p.15). Ela salienta ainda que nada substitui a criatividade do pesquisador, e que tanto segundo Feyerabend quanto Kuhn (apud MINAYO, 2008, p.15) o progresso da ciência ocorre de forma mais veemente quando as regras são violadas e não quando são seguidas. Dilthey (apud MINAYO, 2008) complementa que apesar de precisarmos de determinados parâmetros para produzirmos conhecimento, a criatividade é o mais fundamental.

Ainda dentro desta segunda parte do texto, a autora descreve de maneira breve quatro elementos importantes para a pesquisa nas Ciências Sociais. Apesquisa é uma atividade basilar da ciência e que indaga e constrói a realidade, e que mesmo sendo uma prática teórica ela vincula o pensamento e a ação. Qualquer pesquisa é iniciada com uma pergunta, uma dúvida, que para ser respondida se coloca a necessidade de articular conhecimentos anteriores ou então criar novos conhecimentos.

E é nesse aspecto, que se expressa a necessidade do segundo elemento, ateoria, que é “(...) construída para explicar ou para compreender um fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e processos.” (MINAYO, 2008, p.17), e que tem como funções esclarecer melhor o objeto de pesquisa, fornece elementos para questionamentos e o estabelecimento de hipóteses, colabora na organização dos dados com mais nitidez e, guia a análise dos dados. A teoria pode ser o conhecimento de um determinado assunto construído cientificamente por outros pesquisadores e que fornecem elementos para novas pesquisas, como por exemplo, as grandes teorias (macroteorias) que são narrativas ou escritas por autores de referência, sendo que as quatro principais são o positivismo, o marxismo, a teoria da ação e o compreensivismo, mas há também as teorias menores, que normalmente se baseiam em alguma grande teoria e especificam a explicação e a interpretação de um fenômeno. Porém, muitas vezes, surgem problemas que as teorias já desenvolvidas não dão conta de explicar, para isso inicia-se uma “pesquisa exploratória”, na qual é proposta uma nova interpretação. A autora salienta que nenhuma teoria, por mais bem formulada que seja, ela dá conta de explicar todos os fenômenos e processos.

A teoria é feita através de um conjunto de proposições, um terceiro elemento fundamental para a pesquisa social, que são as hipóteses comprovadas, que devem ser claras e de fácil entendimento, apresentarem as relações abstratas e nortear para questões reais. E por último, os conceitos, que são os temas mais significativos num discurso científico, são eles que focalizam e delimitam o tema de estudo e, são carregados de sentido, já que uma mesma palavra pode ter conceitos diferentes em teorias distintas. Minayo (2008) aponta quatro características do conceito que devem estar claras para o pesquisador: o conceito tem que ser valorativo (explicitação da corrente teórica onde os conceitos foram concebidos), pragmático (descrição e interpretação da realidade) e comunicativo (nítidos, inteligíveis, abrangente e específico ao mesmo tempo). Os três tipos de conceitos são os teóricos (compõem o discurso da pesquisa), de observação direta (definem os termos para serem trabalhados em campo ou nas análises documentais), e de observação indireta (relacionam o contexto da pesquisa com os conceitos da observação direta). A autora afirma que tanto as teoria como os conceitos são fundamentais para qualquer pesquisa, porém eles não podem ser camisas de força.

Na terceira parte do texto, Minayo (2008) aborda a questão da pesquisa qualitativa e da pesquisa quantitativa, dando ênfase a primeira. A pesquisa qualitativa responde a questões que não podem ou não devem ser quantificados, tanto que o objeto desse tipo de pesquisa raramente pode ser expresso em números. Não deve existir uma hierarquia entre os dois tipos de pesquisa, pois a diferença entre elas refere-se a natureza da pesquisa. As divergências sobre esses tipos de pesquisa geralmente ocorrem no debate entre as correntes do pensamento, sendo que a autora cita quatro delas.

positivismo utiliza de conceitos filosóficos e matemáticos para explicar a realidade, e se utiliza de fundamentos quantitativos nas ciências sociais iguais aos utilizados nas ciências naturais, tais quais, “o mundo social opera de acordo com leis causais. O alicerce da ciência é a observação sensorial. A realidade consiste em estruturas e instituições identificáveis ‘a olho nu’ (...). São reais os ‘dados visíveis e identificáveis’. Valores e crenças (...) devem ser desprezados como objetos específicos de pesquisa. Os dados recolhidos da realidade empírica das estruturas e instituições são suficientes para explicar a realidade social.” (MINAYO, 2008, p.23).

objetividade defende o método quantitativo como suficiente para explicar a realidade social, com instrumentos padronizados e “neutros”. O compreensivismoque manifesta-se na fenomenologia, na etnometodologia, no interacionismo simbólico, considera a subjetividade o fundamento da vida social e que é inerente à construção da objetividade nas Ciências Sociais. A autora acrescenta que “compreender” é o verbo da pesquisa qualitativa, ou seja, compreender e interpretar a realidade.

marxismo considera a historicidade, as condições sócio-econômicas, as contradições sociais. Possui uma abordagem dialética, e teoricamente faria um “desempate” entre o positivismo e o compreensivismo. A dialética trabalha tanto com quantidade como com qualidades. Segundo Minayo (2008), o marxismo quase não considera em suas análises os valores, as crença, os significados e as subjetividades.

A autora acaba por fazer uma crítica às quatro teorias citadas: o positivismo pela objetividade sem sujeito e a restrição do conhecimento da realidade àquilo que pode ser observado ou quantificado; o compreensivismo devido à tendência de considerar que aquilo que as pessoas falam é a realidade e o subjetivismo que confunde a ciência com a percepção do investigador; o marxismo pela dificuldade de criar instrumentos de compreensão e a presença de respostas prontas baseadas na interpretação teórica deixando de lado a realidade empírica.

Na quarta e última parte de seu texto, Minayo (2008) apresenta o ciclo de uma pesquisa qualitativa, afirmando que é um processo em “espiral”, pois se inicia com uma pergunta que ao ser respondida cria novos questionamentos e dúvidas. O processo de trabalho de uma pesquisa qualitativa divide-se em três partes: a primeira é a fase exploratória, quando o pesquisador se prepara para entrar em campo, definindo o objeto, organizando teórica e metodologicamente, cria hipóteses, descreve os instrumentos de trabalho, pensa o cronograma e faz os procedimentos para a definição do espaço e da amostra; a segunda fase é o trabalho de campo, quando combinas os instrumentais de observação, comunicação, levantamento de dados, confirmação ou não da hipótese; a terceira etapa é a analise e tratamento do material empírico e documental, quando ocorre a compreensão e interpretação dos dados levantados na segunda fase, articulando com a teoria, ou seja, ordenam-se os dados, classifica-os e então ocorre a análise propriamente dita.

Para encerrar o texto, a autora afirma que a análise qualitativa é mais do que a classificação de opiniões, mas sim a descoberta de códigos sociais a partir do levantamento dessas opiniões. Alega também, que a pesquisa não se encerra, pois toda investigação produz conhecimento e indagações novas.



[1] MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza; GOMES, Suely Ferreira Deslandes Romeu (orgs.).Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008, p.9-29.

[2] Minayo é graduada em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Ciências Sociais pela State University of New York, possui mestrado em Antropologia também pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é pesquisadora dessa fundação e editora científica da revista Ciência & Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

[3] Minayo (2008) utiliza de critérios citados por ela na obra “O desafio do conhecimento”, publicado em 2006, e por Demo (1985) em “Metodologia científica em Ciências Sociais”.